quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Mães blogueiras


Troca de experiências sobre a gravidez, o parto e o cuidado com as crianças deu origem a fenômeno digital

Estado de São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010
por Carolina Frederico, de Nova York
Foto de Sérgio Neves/AE

MATERNIDADE BLOGADA – Letícia Volponi, 30 anos, com a filha Laura, 2 anos
Dizem que mãe é tudo igual, só muda o endereço. Aí chega um dia em que há uma troca de geração e surge um tipo de mãe diferente. Ligada em computadores, com a informação na ponta dos dedos e capaz de fazer mais mil coisas ao mesmo tempo, muito bem, obrigada.

Uma das grandes diferenças entre a jornalista Leticia Volponi e sua mãe é que ela está na internet o tempo todo à procura de conselhos. A possibilidade de procurar respostas e encontrar experiências reais chama cada a atenção para o que as mulheres, especialmente as mães novatas, têm feito na internet. “A vantagem é que você não fica restrita só ao que diz o médico, está tudo ali”, explica Leticia. “Eu faço tudo online, compro coisas, pago contas, alugo filmes”.

Quando soube que estava grávida, Letícia criou o blog Pelos Cotovelos e Cotovelinhos. A ideia era contar causos e manter parentes e amigos atualizados. Ali ela deu a notícia de que esperava gêmeos. Ali ela postou detalhes sobre a noite em que inesperadas dores surgiram e “a Laura disse olá, e a Beatriz disse adeus”.

Experiências
Essa troca de experiências postadas na rede levou a empresa de pesquisas Nielsen Online a preparar o seminário The Digital Lives of Power Moms (As vidas digitais das super mães), para discutir o fenômeno das mães na internet.

Cada vez mais as mães usam, endossam e promovem marcas na internet. As plataformas digitais e o megafone das mídias sociais influenciam essas mulheres de uma forma totalmente nova.

Junte isso ao fato de que, segundo pesquisa da consultoria Mom Central, há cerca de 75 milhões de mães nos EUA, responsáveis por 85% das decisões e compras em seus lares, gastando US$ 2 trilhões por ano. Elas decidem pelos filhos e pelos maridos. Está claro que esse é um mercado nada desprezível. E as empresas norte-americanas já se deram conta disso.

Outra figura que quase não existe mais é a da mãe que precisa esperar pelo marido ou pelas crianças para colocar o aparelho de DVD para funcionar.

De acordo com dados da Nielsen Online, as mulheres não só tomam as decisões relativas aos produtos considerados “do lar” mas também escolhem eletroeletrônicos, carros, etc. Não é à toa que empresas como a Microsoft bancam almoços, eventos e visitas de mães influentes a suas fábricas, de onde elas saem cheias de produtos para experimentar. É o boca-a-boca digital.

Empreendedora
Stacy DeBroff, fundadora da Mom Central, diz, sem hesitar, que fazer um blog sobre um assunto e espalhar sua mensagem pelas redes sociais é um caminho direto para se tornar autoridade em um assunto. E daí para começar a ganhar dinheiro com atividades que antes eram vistas como hobbies ou tarefas domésticas são só mais alguns passos.

Segundo Jessica Hoge, diretora de pesquisa da Nielsen Online, as mulheres americanas estão usando a crise para fazer estratégias de negócios. E quando elas descobrem o Twitter ou o Facebook, se veem diante de muito mais oportunidades. Há mãe especialista em cupons e descontos, aquelas que sabem sobre todas as liquidações, as que têm as melhores receitas e até mesmo a mãe fera em organização e gerenciamento do lar.
Plataformas gratuitas, como blogs, criaram a chance de se tornar relevante pelo conteúdo, não só pela aparência, e atrair possíveis clientes e leitores com informações e dicas para então convertê-los em clientes. Outra área que ganha destaque é a de resenha de produtos e serviços.

Multitarefa
De acordo com Jessica, o que faz as mães digitais se engajarem de forma diferente é a excepcional capacidade que elas têm de executar múltiplas tarefas. Ferramentas online ajudam a organizar melhor a rotina e a agenda das crianças. Mensagens de texto eliminam ligações desnecessárias.

“A mãe digital tem, definitivamente, um pouco mais de tempo para si mesma”, afirma Jessica. A americana Lindsay Maine, do blog Rock and Roll Mama usa o Google Calendar com cores diferentes para organizar a agenda de seus pequenos. Ela trabalha de casa e considera o Twitter o seu “bebedouro”, onde ela conversa com outras mães para saber o que elas estão fazendo.

Mas quando um blog deixa de ser um diário para virar uma forma de mídia? Letícia começou a perceber que os posts como dicas de passeios às sextas têm muita leitura, então passou a se dedicar mais a eles. O blog que nasceu como diário de bordo virou uma pagina cheia de dicas sobre a primeira infância. Como trocar fraldas, como ensinar a dormir, como contornar a birra.

O ponto é que as mães blogueiras estão se organizando e comandam discussões importantes. É um mercado que cada vez recebe mais atenção. Especialistas aconselham as corporações a bater na porta dessas influentes mulheres, para ouvir o que elas têm para dizer e criar um relacionamento. Afinal, a opinião desse esquadrão de mães pode ajudar a fazer o sucesso ou decretar a morte de um produto.

Em ação
♦ Pergunte – Use blog, Twitter ou Facebook para fazer perguntas. Comentários e criticas podem render posts.

♦ Varie – Para quem não gosta de escrever, vídeo, foto e áudio são boas opções.

♦ Pesquise – Ferramentas de análise, como Feedjit.com ou Lijit.com, mostram como as pessoas chegaram ao blog.

♦ Compartilhe – Sua experiência pode ajudar outras pessoas e tornam seu blog relevante para a comunidade a que você pertence.

♦ Conheça – Outras mães blogueiras não são concorrentes, mas parte da sua comunidade. Reuniões offline abrem portas para parcerias.

Blogar ou dormir?
Não há como escapar. Assim que você vira mãe (ou pai), ganha um companheiro inseparável: o sono. E como ele é fiel. Acompanha você por meses em todos os momentos, especialmente nas madrugadas de choro. Ele fica ali, do seu lado, firme, quando você quer ir ao cinema, jantar fora, ver o último episódio de Lost ou atualizar o seu blog. Blog? Mas para que blogar e falar de papinhas, brinquedos, livros infantis, dicas de passeios com bebês e afins quando você pode simplesmente dormir?

Cada mãe blogueira tem seu motivo. Muitas querem um lugar onde amigos possam acompanhar o crescimento. Fotos e vídeos registram do primeiro ultrassom à primeira velinha apagada.

Outras desabafam. “Como sobreviver ao primeiro dia dele na escolinha?” “Como aliviar a culpa por trabalhar o dia todo?” No melhor esquema fala-que-eu-te-escuto, elas deságuam seus dramas.

Acho esses dois motivos mais do que válidos. No meu caso, porém, uso o Flickr e o Twitter para deixar o pessoal atualizado sobre a vida do Theo. Também recorro à internet para amenizar dramas maternais: ver o que outras mães acham sobre o antialérgico que o pediatra receitou ou saber como lidar com as birras.
Mas não falo disso no meu blog, o Mãe da Rua. Uma das minhas ideias é mostrar que filhos não fecham portas para a vida social, abrem novas. Ninguém precisa banir botecos e cinema. Basta saber como tornar essa experiência mais tranquila.

Também blogo para dividir descobertas que facilitam a vida e achados que deixam os filhotes ainda mais lindos e modernos (momento coruja, inevitável). Sempre em busca de coisas que fujam do chato estilinho azul&rosa: um carimbo personalizado feito por uma mãe blogueira holandesa, pechinchas do bairro, receitas de uma mãe blogueira paulistana. O bacana é trocar essas dicas com outras mães e pais, principalmente para mim, que tenho poucos amigos com filhos pequenos.

E o melhor é que um blog assim não precisa falar só de assuntos mamãe-bebê. Posso falar de tudo – até do disk comida tailandesa que me salva nos dias de exaustão. Porque mãe também é consumidora (e como!), filha, mulher e jornalista metida a decoradora, estilista, crítica literária, economista... (Mariana Della Barba)

2 comentários:

  1. Que artigo legal! Está escrito aonde, no blog "Mãe de Rua"? Vou procurar.. É isso aí: mães e pais blogueiros em ação para um mundo melhor! Apoiadíssimo!

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  2. Maíra, eu sempre coloco os créditos no início da matéria (saiu no Estado de São Paulo)

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