segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Seu filho não presta atenção nas aulas?

Saiba as diferenças entre distração e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

Renata Losso, especial para iG São Paulo

Foto: Getty Images
Nem sempre a falta de atenção em sala de aula é um fator decisivo para diagnosticar o TDAH
Correrias, agitação e falta de atenção são características presentes na infância, e a maioria das crianças pode vivenciá-las em determinada fase. Mas embora seja algo corriqueiro e normal, é preciso pensar atenção quando o problema persiste: dependendo da intensidade e frequência, a criança sofrer de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Mesmo que somente um profissional habilitado possa diagnosticar uma criança com TDAH, há variados indícios que demonstram a possibilidade do transtorno e os aspectos predominantes, que variam entre a hiperatividade, a desatenção ou combinação de ambos.

Dentro da escola, por exemplo, as crianças portadoras do TDAH com hiperatividade predominante terão mais dificuldade em ficar sentadas na carteira, falarão muito e farão barulho. São aquelas que interrompem as aulas ou brincadeiras, ocasionando problemas com professores ou até com colegas de classe.

As crianças com TDAH em que a desatenção é predominante costumam cometer erros por descuido, chegando até a não conseguirem concluir tarefas mais longas, que exigem foco. Diferentes dos hiperativos, eles não chamam muita atenção e o transtorno pode acabar sendo diagnosticado somente mais tarde.

Na combinação de hiperatividade e desatenção, o problema do TDAH pode ser ainda maior e quanto antes for feito o diagnóstico, melhor. De acordo com Fábio Barbirato, autor do livro “A Mente do Seu Filho” (Editora Agir) e chefe de Psiquiatria Infanto-Juvenil da Santa Casa, no Rio de Janeiro, é a partir dos seis ou sete anos de idade que a criança pode ser diagnosticada com segurança, mas profissionais bem qualificados podem descobrir o problema até em crianças a partir dos três anos.
Será que é TDAH?

Nem sempre, porém, a falta de atenção em sala de aula é um fator decisivo para diagnosticar o TDAH. “Quando a criança, por exemplo, possui graves necessidades escolares, repetiu o ano, não aprende a ler e a escrever direito, é importante que ela seja avaliada para saber se não possui patologias de aprendizagem”, explica Fábio.

Cacilda Amorim, psicoterapeuta comportamental e diretora do Instituto Paulista de Déficit de Atenção (IPDA), em São Paulo, lembra que a base para um diagnóstico clínico é a intensidade dos sintomas em comparação a outras crianças de idade similar. “Uma criança com baixo rendimento escolar pode sofrer de TDAH, mas também pode ser dislexia, déficits na alfabetização, dificuldade momentânea de ajuste emocional, como perdas e separação dos pais, dificuldades em aceitar regras ou até mesmo um problema orgânico”, explica a especialista.

Por esta razão, é preciso tomar muito cuidado com qualquer rótulo. “As queixas de distração, agitação, impulsividade e dificuldades emocionais são compartilhadas por muitos outros problemas que não o TDAH”, afirma Cacilda.

Mitos do TDAH

Além de rótulos, os mitos em torno do distúrbio ainda persistem. O principal deles é a crença de que o remédio indicado para o tratamento do TDAH trará dependência. De acordo com a Neuropediatra Valéria Modesto Barbosa, de Juiz de Fora, em Minas Gerais, o principal medicamento usado no tratamento, a Ritalina, não causa dependência por ser eliminado do organismo entre quatro a doze horas depois de ingerida. Fábio ainda afirma que não medicar uma criança com TDAH seria como não medicar um adulto com diabetes. “Atualmente, existe todo um embasamento para descartar qualquer possibilidade de tornar a criança dependente”, afirma.

Segundo Cacilda, existem outras afirmações a respeito da criança com TDAH que devem ser revistas, principalmente pelos pais. “Ele é preguiçoso e desmotivado” e “Ele vive com a cabeça no mundo da lua” são frases que um pequeno portador do TDAH poderá ouvir ao longo da fase de crescimento, mesmo que esteja lutando contra o problema. A criança pode também acabar acreditando que é realmente preguiçosa ou até burra, e o papel dos pais neste momento é educar a respeito do transtorno e mostrar também as qualidades que a criança possui.

E agora, o que fazer?

Embora os problemas possam ser muitos, até mesmo em relação aos colegas de classe, a criança diagnosticada com TDAH necessita de acompanhamento no desenvolvimento escolar. De acordo com Cacilda, mostrar seu interesse em torno da educação do filho e manter linhas de comunicação eficazes com os professores são atitudes que devem ser tomadas.

Além disso, a especialista afirma que é fundamental enfatizar o esforço da criança – não a inteligência ou a esperteza – e manter regras claras para a realização das tarefas escolares. A rotina é muito importante, como horários determinados para o estudo, alimentação, higiene, lazer e descanso. “Desta maneira, os pais evitam conflitos muito comuns, preservando a afetividade e a convivência familiar”, explica Cacilda.

Valéria ainda conta que, em relação à escola, os professores também devem tentar compreender os alunos com TDAH e tentar adaptá-los da melhor forma possível. “O professor, ao perceber que o aluno está mais agitado ou desatento, deve estabelecer uma comunicação com ele, dar uma tarefa para ele realizar fora da sala ou deixá-lo ir fazer uma pausa para que o ritmo seja quebrado e a criança tenha tempo de respirar e se adaptar novamente ao que está sendo proposto”, conta.

O mais importante é saber dar o tempo que a criança necessita. E os pais, em nenhum aspecto, devem se sentir culpados por ter um filho com TDAH. “Eles são fundamentais para a felicidade e uma adaptação bem sucedida das crianças portadoras do transtorno”, alega Cacilda. “Uma das piores saídas para lidar com as dificuldades do TDAH é endurecer a disciplina, criando regras muito rígidas, sem criar condições para favorecer os avanços e sucessos da criança”, completa.
 

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